domingo, 11 de janeiro de 2015

A Galinha e o 118

No ônibus, ou no busão, tudo é mais apertado, mais quente, mais sujo e mais suado. Mais mais, enfim. Mas nunca é igual. Claro, todo ônibus tem lá suas semelhanças uns com os outros, afinal é preciso ter um padrão para não confundir o passageiro, não é mesmo?

Aqui em Jampa, por exemplo, de início estranhei pra caralho, pois a gente entrava pela parte traseira do ônibus. O contrário lá de Sampa. Pouco depois até achei bacana a idéia. Era massa poder cumprimentar o condutor e o cobrador. Parecia um momento feliz do dia. Às vezes, era preciso reclamar também. Tem uns motoristas que acham que estão levando batata inglesa (a batatinha) no lugar de gente.

Depois de uns anos mudaram. Colocaram a entrada pela dianteira, um espaço minúsculo entre o cobrador e motorista. A gente nem bem conseguia entrar direito na lata e já tinha de pagar. Da entrada a gente já era tratado como sardinha. Um aperto só.

E mais apertado ainda era o 118, aquele ônibus que vai pra o Valentina. Ali vai de tudo. Vai gente, vai bode, vai criança (que também é gente), vai saco e sacoleiro e vai galinha. 

E numa dessas apertadas idas, em que eu voltava pra casa, entrou uma senhorinha miúda. Sumida no meio de tanto cacareco, ela sozinha ocupava o espaço de três pessoas. Tanta sacola, tanta caixa e coisa, tanto empurra-empurra e me ajuda daqui e me ajuda de lá, segura isso, seu moço, passa esse outro por cima da roleta e aquele outro pela porta traseira. E...

O fundo de uma caixa se rasgou.

Um gemido de susto e um “cocó” seguido de um bater abafado de asas.

Foi aquela gritaria. Aquele alvoroço. Gente se abaixando. Outros se esticando. Pega a galinha, cadê minha galinha, ai meu deus uma galinha, essa porra de galinha gritava o motorista, o cobrador sem reação, as crianças assustadas chorando e outras rindo, uma senhora com a mão no peito ai ai ai passando mal e um mói de peninhas voando pra lá e pra cá.

A galinha pulava de uma cabeça para cabeça, cada uma mais alvoroçada que a outra e que empurrasse ou que se apertasse mais, fugindo ou tentando pegar a pobre da ave.

Até que num dos pulos da nossa cocó, alguém lhe deu uma bolsada e ela, sem o abafado bater das asas, coitada, caiu juntinho da catraca, aos pés da senhorinha sacoleira que aos desesperos, por ela, ali chorava. Foi-se embora a galinha do terreiro. 

E o busão, 118, apertado, sujo de pena e cheio de gente suada, aos trancos e barrancos continuou seu caminho para o Valentina. Esse amado fim de mundo em João Pessoa.





Dezembro de 2014

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