Eu
não tinha exatamente um nome, nem mesmo exatamente uma idade. Eu apenas me
chamava e me sentia mais velho. O mistério me tornava mais interessante,
“ironicamente sexy”, ela dizia. Comportava-me assim. Apresentava-me assim. O
que eu fazia ou deixava de fazer, neste caso, também não chega a ter
importância. Quando a gente sofre, algumas classificações acabam perdendo o
pouco sentido que lhes restam...
Vale
apenas saber que eu quebrei a cara, quebrei as pernas, os ossos dos mindinhos,
o cigarro no bolso de trás da calça, aquele vinho guardado há anos...
Quebrei-me por inteiro e voluntariamente. Em estado de graça e de graça. Seja
maldita esta bendita ressaca!
Mas
vamos ao que interessa... vou deixar de enrolação e dizer-lhes logo o que
aconteceu, porque hoje em dia: o tempo é curto, as pessoas têm pouco dele ou
não o têm. Nem um grãozinho de areia.
Como
eu ia dizendo... o tempo. Tenho pouquíssimo tempo, mas isso não é o problema, o
problema é chegar em casa e ligar o computador depois de um dia longo. Apertar
aquele botãozinho prateado do meu desktop. É neste simples ato que o tempo se
vai, vai se esgotando, se perdendo, descendo pelo ralo enquanto eu tomo banho
ao som Billy Holliday. E a música vai tocando e o cd acaba e eu já estou em
frente à máquina digitando e digitando e digitando loucamente, sem ver as horas
passarem, sem perceber que o barulho de carro lá fora, na rua, diminuiu. Sem
notar que é madrugada e o meu tempo de sono também diminuiu.
Por
quê? Por que eu liguei o computador?Por que eu coloquei Billy Holliday para
tocar? Por que eu perdi o meu sono em frente a esta máquina luminosa e cheia de
ilusões?
Para
esperá-la passar...
Para
esperar a minha Billy entrar no skype, no MSN, no facebook ou no Orkut. Em
qualquer lugar que virtualmente eu a pudesse encontrar.
Mas
ela parece fazer de propósito. Parece se esconder de mim, se esquivar daquilo
que somos, daquilo que durante tantas madrugas confessamos...
E
sem mais delongas, foi por Billy que fingi ser um cara mais maduro, um cara
mais esperto, mais charmoso e sexy,ironicamente falando, pois neste mundo não
há charme algum. Só dígitos, só teclinhas mentirosas, só vozes digitalizadas e
o vazio existente entre a máquina quente e o meu coração paciente.
A
paciência, às vezes, tem sua recompensa...
Certo
dia, Billy e eu nos encontramos. Meu coração parou de bater nesse instante. Ela
realmente existia. Ela tinha dimensões, dimensões que eu nunca tinha visto em
mulher alguma...
Foi
o acaso. Não, não. Foi o Destino! Sim, Neil Gaiman tinha razão quando o
imaginou cego. Só sendo cego para não ver que nos colocar dentro do mesmo hotel
não seria bom. Bom seria. Mas ainda sim, não seria bom. O Destino nos levou até
aquele hotel... o Destino, naquele dia, nos traiu.
Meses
antes daquele encontro, quando nos conhecemos, quando realmente construímos um
laço entre nós, nos prometemos deque nunca nos encontraríamos. Que acontecesse
o que acontecesse, seriamos sempre uma tela de computador e algumas palavras.
Nothing more.
E
naquele maldito dia, numa cidade grande pelo meio do mundo, o nosso voo foi
cancelado. Disseram que foi devido a uma forte neblina em torno do aeroporto.
Realmente, até para carro andar estava difícil. Por coincidência, ou pelo
Destino, as companhias aéreas nos colocaram no mesmo exato lugar.
Billy
era fantástica! Como eu ia dizendo,quando a vi, meu coração parou por uns
instantes. Acho que o mesmo lhe aconteceu, pois percebi que ela precisou puxar
o ar para dentro dos pulmões com força para só depois sorrir... Sorriu. Largou
as malas no meio do hall do hotel. Correu em minha direção. Deu-me um abraço
forte. Tirou-me o ar. Ficara na pontinha dos pés. A envolvi com meus braços.
Muitos minutos se passaram e tempo algum percebemos.
Dividimos
o mesmo quarto. Dividimos o mesmo som. Dividimos a mesma meia luz... a meia
sombra. A nossa cama também ficou pela metade. Nossas juras foram eternas.
O
dia amanheceu. A verdade nos acordou e nos afastou. E algo entre nós dois ficou
para sempre naquele quarto. Não nos acompanhou, nem mesmo permitiu que
voltássemos ao que éramos.
Ficamos
perdidos naquele jardim labiríntico do Destino. Não houve luz ou lanterna,
naquela madrugada, que nos acendesse a razão, que nos separasse, que nos
impedisse de tocar-nos.
Esse
é o meu problema. Aquela noite foi o meu problema.
Billy
sumiu.
Alguma
coisa dita entre nós dois não ficou clara. Talvez ela não tenha acreditado nas
minhas juras. Talvez ela tenha se assustado com as minhas juras. Talvez eu não
tenha jurado o suficiente.
E
agora eu me encontro aqui, toda madrugada, googleleando em busca de Billy,
daquela menina de pele macia, de cheiro doce e suave...
(Por mim a pedidos de Liliane Ballesté e a contra pedidos de Samantha)
3 comentários:
Quem é Billy, meu deus?
Billy deve ser um stranger do omegle. isso já me aconteceu com um tal de Jack Osborn, um escritor de Toronto. apartei esc sem querer e lá se ia uma conversa imensamente legal. uma pena...
estou de volta, eu acho...
♪The answer, my friend, is blowing in the wind♪
Adooorei! Com poesias, com contos, vc é boa em tudo que escreve. Espero que lance um livro.
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