Num domingo, num domingo qualquer, igual a todos os outros, quem tem avó, daquele tipo bem vovó, sabe que é o dia dela! Quando a vovó pode mostrar os dotes culinários, fazer mimos nos seus filhos e netos para poder se sentir A matriarca. A chefe da família!!
Mas e quando ela resolve viajar num cruzeiro pela Europa?! A família se fragmenta! Cada um vai para onde quer. Mas não: os filhos carentes, como o meu pai, resolvem prender suas crias embaixo de suas asas. Isso quer dizer que: vamos almoçar em casa no domingo!
Até aí está tudo bem, a gente pede uma comida italiana, ou indiana, ou mesmo japonesa e come.
NÃO! Errei outra vez! Sabe o que se faz com a ausência da vovó? Manda-se a neta aqui cozinhar! Justo eu, a única mulher da casa entre três homens, que não sabe nem ligar o fogão!! Pois é, não sei, não quero saber e tenho ódio de quem sabe! Ai, que raiva...
Eu! Como posso eu fazer um almoço de domingo? Antes fosse o de segunda-feira que ninguém nem percebe o que está comendo. Tudo bem, tudo bem, sem desespero, eu tenho fé em mim mesma.
Eis o que fiz: ao receber a trágica e dolorosa notícia no sábado à noite, peguei o carro do meu pai emprestado e saí voando na direção da casa de minha tia! Só para pegar um dos quinhentos livrinhos que ela tem da Ana Maria Braga, que falam de receitas e voltei.
Chegando, abri o livro na página da receita mais simples: arroz refogado, bife acebolado e batata frita! Impossível de errar, até mesmo para mim.
No dia seguinte, acordei bem cedo, umas nove e meia, que era para dar tempo de fazer tudo. Procurei meu pai e meus irmãos em seus quartos e não encontrei ninguém! Pois bem: se a casa pegar fogo a culpa não é minha!
Desci para a cozinha. E sabe o que me aconteceu, umas duas horas depois, mais especificamente às onze e quarenta: o bife queimou, o arroz virou papa e as fritas, bem, elas derreteram no óleo de girassol.
PÂNICO!!! A cozinha estava uma zona e logo, logo eles deveriam chegar! Mas, graças ao mundo moderno, lembrei dessas comidas pré-prontas que vendem no supermercado – a sorte é ter um do lado de casa...
Peguei a bicicleta e fui até o Pão de Açúcar para comprar comida. O supermercado é a melhor invenção do mundo!! Encontrei até o que servir de sobremesa!! (Agora sim, me sinto dona da casa...)
E, novamente, voltando para casa, coloquei as comidas pré-prontas no forno microndas e no forno elétrico para ir mais rápido. Assim, enquanto elas iam “cozinhando”, eu arrumava a cozinha. Mas deixei algumas panelas sobre a pia para fazer um cenário.
Quando tudo ficou pronto, coloquei-as em travessas de vidro, bem bonitas. Embora o que eles iriam comer fosse algo bem comum: risoto de legumes, frango de padaria e salada verde, dessas que a gente encontra cortada nas prateleiras de frios no mercado, mas eu queria que tudo estivesse impecável para o grande almoço (que torcia para que fosse o ultimo). A sobremesa era creme-papaia mesmo, deixei no congelador e pronto, estava feita.
Um sucesso só! Eles chegaram em casa famintos! Comeram tudo e ainda repetiram. O problema foi que eles me pediram para fazer o jantar!!!...
Farei sopa de ervilha...!
Elaborado em Set/2004
2 comentários:
Rsrsrsrsrs
Pelo menos vc teve a astúcia de comprar a comida pré-pronta... eu teria pedido pizza para que assim não me pedissem mais pra fazer almoço...
Adorei... E a sopa?
Ah, a casa da Vó... jamais senti o cheiro da minha, mas gosto de ter a lembrança do que jamais vivi aqui no meu peito, latente como uma saudade real. Qualquer dia apareço para saborear sua comida. Só não me prepare sopa de ervilhas!
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