segunda-feira, 21 de julho de 2014

Da família e do amor.

(Seu Chico, meu avô... há mais ou menos 10 anos)
A família a gente ama sem conhecer. Conheço pouco da minha. Conheço pouco dos meus avós... de suas histórias e aventuras. De como eles se conheceram e se tornaram os meus avós. 

Meu avô nos deixou dia dezessete deste mês... foi difícil, é difícil... mas a gente entende o ciclo de sua vida. Ele teve seus filhos, seus netos e bisnetos. Cuidou de três gerações suas. Aos meus olhos, olhos de neta, ele era um homem completo. Homem de trabalho, de família, de cultura e de fibra. Seu filho mais velho, tio Luiz, me contou algumas de suas histórias, de seus feitos... 

Meu avô queria a todos nós.

E em uma dessas histórias... o dono das terras que meu avô estava/morava/cultivava confiscou toda a colheita daquele período para que o gado pastasse. Meu avô perdeu tudo. Mas o irmão do ladrão, vendo a injustiça, repartiu pela metade a safra de sua terra para que meu avô não ficasse tão prejudicado.

Muitas vezes, meu avô ia trabalhar no roçado com fome para dar comida aos seus filhos - meus tios, tias e mãe.

Nunca foi homem de se meter nos estudos deles e delas. Nem nos nossos. Mas sempre que lhe pedíamos a benção, ele nos respondia: deus te dê juízo. E eu, em meus cinco anos de idade, ficava me perguntando se juízo era bom, se era de brincar ou de comer, se eu podia levar por aí...

Conosco, os netos, ele era um homem de poucas palavras, mas sempre muito curioso. Percebíamos isso pelo seu olhar atento naquilo que estávamos fazendo ou carregando em nossos braços.

De uns tempos pra cá, meu avô se tornou o nosso xodó. Eu chegava perto dele e lhe perguntava se ele queria carinho no cabelo. Ele me encarava e balançava um sim com a cabeça; às vezes, dizia: quero e fechava os olhos aguardando o cafuné. Seu cabelo era prateado e bem lisinho, mas bem lisinho mesmo. Cabelo de índio.


Pelas palavras do tio Luiz, pude entender que tudo o que meu avô fizera desde o dia em que casara com a minha avó, fizera por nossa família. Para que a gente tivesse juízo, tivesse fortuna e tivesse saúde, como ele sempre me dizia quando eu lhe pedia a benção.

Obrigada, vô.

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