Para Vô,
vó e Ria, por todas as manhãs, manhas e tardes.
Na
sala de casa éramos seis ou sete pequenos, meu tio, seu violão, a moça dos
cabelos mais longos desse mundo e a música. Todos em roda. Os pequenos sentados
de perninhas cruzadas, cuecas, calcinhas e fraldas.
Éramos pequenos
e musicávamos. E a música vinha de todo lugar. Entrava pela porta da sala,
costurava entre as janelas abertas. Arrastava-se pelos chinelos da minha avó
que passava. Na tesoura que cortava a nuvem, com o Saci que queria comer um
bolo sozinho, mas ele não podia. Não. Ele tinha de dividir a música e o bolo
com a gente. Nós também queríamos.
O meu tio
cantava baixinho e carinhava o violão. Nós repetíamos. Repetíamos como se
tivéssemos apenas aquele ar. Numa desarmonia sem fim e de roda, a todos os tons
de cuecas, calcinhas, fraldas e voz. Os cabelos mais longos do mundo dançavam
de um lado a outro, pareciam um balé nas águas. A moça cantava.
A música vinha
de todo lugar. Eu lembro. Lembro que vinha da panela na cozinha. De Ria aguando
o terreiro. De uma das tias ou das mães ou todas arrumando as camas,
dobrando os lençóis, dobrando o sol ao som da nossa univoz.
Éramos pequenos.
Sentados no chão. Perninhas cruzadas. Meu tio cantava baixinho. Estava sem a
letra da música, dizia. Mas a música vinha de todo lugar, não era? E ali, dento
do violão, não tem um monte de letrinhas? Acho que era dali que a música vinha.
De todo lugar.
Um comentário:
Que delícia Mô. Certeza que ela vai ficar muito feliz.
Beijos
Postar um comentário