terça-feira, 28 de setembro de 2010

Sobre aquilo que me falaram


Ingênua. Alguém certa vez me chamou de “ingênua”. Disse-me que eu era uma pessoa maravilhosa, mas que eu carregava comigo este imenso defeito.

Ingênua, eu? Me espantei. Nunca ninguém tinha me dito isso. E olhe que já me disseram muitas coisas. Já nem me disseram também, soube através de terceiros o que falaram de mim. Mas “ingênua” por que, pessoa? Por que eu sou ingênua? E esta pessoa se preocupou em dizer vários outros adjetivos à minha imagem. Qualificava-me nisso e naquilo, ali e acolá. Eram tantos que eu pensei que eu poderia sair dali e conquistar o mundo!

Passei meses pensando em “ingênua”. Meses pensando em como não deixar ninguém me passar para trás. Horas inteiras e intermináveis apenas pensando em “ingênua”. Tentando encontrar os momentos de ingenuidades, as falas infantis e sem maldades que eu deixei escapar de dentro de minha boca ou mesmo as vezes em que escorreguei nas conversas de lobos maus.

“Ingênua”

Sou uma adulta “ingênua”, facilmente enganada, facilmente manipulada, fácil-fácil.

Gastei horrores de tempos me convencendo do contrário. Que aquela pessoa estava redondamente enganada. Que eu nunca tinha agido com ingenuidade nos meus atos, fazendo, inclusive, coisas genuinamente acidentais parecerem premeditadas por mim. Tudo para não ser “ingênua” diante de ninguém.

Mas a gente não se engana por muito tempo.

Aos poucos fui percebendo a Ingênua de que essa pessoa havia me falado. Ai que tristeza! Ai que dor nas minhas horas! Malditas horas que multiplicam o meu pensamento. Malditas horas gastadas com coisas inúteis e que me permitiram pensar em “ingênua”. Malditas horas lendo Saramago e vendo uma única palavra, aquela palavra que eu ouvira meses atrás. Ingênua Malditas horas vendo o ar se condensar no vidro do box onde eu escrevera tantas vezes esta droga desta palavra. Ingênua.

Eu não queria ser assim, tão... ingênua. Não queria ser tão facilmente conduzida por tolas palavras, por tolos olhares, por tolas situações.

E foi isso que aconteceu novamente. Cai no adjetivo que me deram. Me deram e eu acabei aceitando quase que na maior boa vontade. Fiz exatamente o que a pessoa esperava que eu fizesse.

Fui “ingênua”, facilmente levada pela conversinha dos outros. Ai que maldita ingenuidade!

5 comentários:

carlos disse...

Também demorei pra aceitar minha ingenuidade, ainda é difícil as vezes. Mas tem suas vantagens; conheço poucas pessoas boas e sinceras que nem você, acho que isso tem a ver com a ingenuidade.

Seja lá o que tiver acontecido, cabeça erguida e bola pra frente, os manipuladores não merecem a nossa tristeza só o nosso desprezo.

Paulo disse...

As pessoas honestas, puras de coração e que colocam sempre a verdade em primeiro lugar tendem a ser taxadas de ingenuas...

Força Sempre!

Saudades!

Liu disse...

Eu tenho um mau (ou bom) costume de gostar de características minhas que para muitos parecem defeitos, como minha "bobice".
As pessoas tem essa ideia de que ser seco é ser forte, ser maduro, seguro. Eu prefiro ser boba, ingênua, fraca, infantil. Pelo menos eu vivo de verdade.

Lyla, a louca disse...

Caraca, sem dúvida um dos melhores. Muuuuito bem escrito. Parabéns!

Téo Nicácio disse...

SEnsacional hahahah!!!!!