terça-feira, 23 de março de 2010

Há dias que ela não vem. A porta da sala não é aberta desde o dia em que por esta ela saiu. Ela voltará? Pela janela, as arvores lá fora, assanham seus cabelos em rebeldia e o caminho, por onde ela passou e que há tantos dias não é pisado, assobia de solidão. Ela voltará? Nos muitos céus estrelados de número já esquecido o silêncio eterno, tolamente, cambaleia de sono sem dormir, porque o sol, de olho grande, logo vem espiar se o espaço vazio de uma sombra, hoje será preenchido. Há dias que ela não vem. E o tormento de vozes sussurradas que o vento traz sob as frestas da casa assombram e anestesiam a saudade com a certeza de solidão. Ela não voltará. E tão logo se dá a constatação do fim; murchas e apavoradas correm as arvores atrás de outros passarinhos. Ela não voltará. E nisto, neste não, a pálpebra do sol é fechada por não ter mais razão de abrir e no sono por fim as estrelas se deleitam. Nada por mim outra vez passará ou me preencherá, porque há dias ela não vem e não voltará.

2 comentários:

Paulo disse...

Belo.
Triste. Ainda assim, belo.
A ausência de certas pessoas faz com que quase tudo perca a sua graça, o seu brilho, a sua luz... mas, aí percebe-se, como vc me disse, que essa ausência é só física e se encontra motivos para sorrir...
Parabéns!

gabriela disse...

Enquanto a sua foi embora e não veio, a minha chegou e é pra ficar, pelo menos por um tempo. É bom te ver de volta, e ler os teus textos. Nem sei mais se lembra de mim, mas espero que sim, de verdade. Tu me encantas cada vez mais, menina.

:*